terça-feira, 4 de outubro de 2011

Os clichês, o blasé e a solidão.


Ontem ouvi um clichê nos telejornais: - Casal de homossexuais agredido na região da Avenida Paulista. Sim, um clichê. Segundo o dicionário Houaiss, clichê é uma “frase que se banaliza por ser muito repetida, transformando-se em unidade lingüística estereotipada, de fácil emprego pelo emissor e fácil compreensão pelo receptor”.

A associação agressão contra homossexuais e Avenida Paulista está virando um lugar comum. Até mesmo um desavisado no interior do Brasil conseguirá completar a frase, se lhe for proposto o jogo.

Durante nossas conversas quotidianas ouvimos tais clichês constantemente. Nossa reação habitual a eles são respostas automáticas ou um descrédito escancarado do emissor. Em muitos casos, essas frases feitas são ditas em elevadores, bares, conversas despretensiosas e pouco aprofundadas. Servem para preencher vazios constrangedores ou são usadas quando há uma ausência de pensamento crítico.

Parece que é essa a postura que temos tomado com relação aos constantes crimes de ódio realizados contra homossexuais. Estamos nos acostumando, nos anestesiando, dando respostas prontas e fáceis. Mais uma frase repetida na TV, mais uma das informações a que é submetido o cidadão bombardeado de estímulos.  

Como reagir a isso? Já não enxergamos mais os pedintes, crianças de ruas, doentes nas filas dos hospitais públicos, imigrantes escravizados e trabalhadores explorados. Porque com os homossexuais seria diferente? Cada vez mais as conclusões do filosofo alemão Simmel se confirmam, vivemos em uma sociedade apática, que não consegue processar os estímulos que recebe e está fadada ao individualismo e a indiferença com relação ao outro. O que ele chamou de atitude blasé.

Enquanto não nos preocuparmos com aqueles que são diferentes da gente e que não nos afetam diretamente, mais desconectados estaremos um dos outros e mais refém estaremos de um outro clichê: seremos pessoas solitárias, em meio à multidão.