domingo, 12 de maio de 2013

Poema de Anestesia


Como engrenagem desregulada, sigo funcionando.
Sou uma utopia de peça bem desenhada, como função e movimentos precisos.
Como não perceber que as partes não se encaixam?
Como não ouvir o ranger de dentes metálicos?

Anestesia

Como predador ineficiente de uma cadeia alimentar contraditória, sigo me alimentando.
Sou aquele que dá sentindo ao que digere apenas em poucos momentos de insights claricianos.
Como não refletir sobre aquilo que entra em mim?
Como não saber o que é jogo no mundo?

Anestesia

Como personagem histórico de um povo formado por apenas um indivíduo, sigo narrando.
Sou um discurso mal elaborado que ganha sentido apenas quando é dito diante de espelhos.
Como escolher quando todas as alternativas estão corretas?
Como engolir toda a vaidade, quando é ela que me significa?

Anestesia

O fluxo do tempo carrega corpos inertes que se deixam levar por impulsos de fibra ótica.
Conectar-se, consumir-se, vomitar-se, reciclar-se, relatar-se, gabar-se, desprezar-se, descartar-se.

Catarse.

Anestesia.

(Filipe Miranda)