Ao acessarmos um portal de noticiais na internet notamos que, diferentemente dos jornais tradicionais, o que se apresenta é uma coleção de manchetes. Não existe texto que ultrapasse o tamanho médio de um post do twitter, 144 caracteres. Caso optemos por acessar uma das notícias, em muitos casos, somos direcionados a meros parágrafos sem informação alguma complementar. Tal comunicação telegráfica incomoda, especialmente, a pequena parte de leitores mais eruditos, os quais pedem por mais profundidade e fôlego nos textos jornalísticos. O veredicto é de que estamos nos tornando uma sociedade de analfabetos funcionais que optou por ignorar a leitura.
Contudo, alguns dados chamam a atenção. O mercado literário brasileiro nunca foi tão grande. Apesar de estarmos bem atrás de países como Argentina e Chile, possuímos cada vez menos analfabetos e os lucros das grandes livrarias são cada vez maiores. Basta caminhar pelos ônibus e metrôs das grandes cidades para perceber o quanto aumentou o número de leitores.
Outro fato que devemos observar é a quantidade de horas que uma pessoa passa lendo. Antes da internet, apenas algumas horas do dia eram dedicadas à leitura de jornais, revistas ou livros. Um trabalhador de escritório passa oito horas em frente a um computador, lendo quase o tempo todo. Dessa forma, nunca se leu tanto. A questão importante neste contexto não é o quanto estamos lendo, mas o que estamos lendo.
Nos círculos sociais, nas seleções para concursos públicos e empregos e durante as emissões midiáticas, os indivíduos são cobrados constantemente por informação. Devem possuir ao menos um mínimo de conhecimento sobre diversos assuntos, caso queiram se localizar minimamente nas conversas e testes aplicados. Como não é possível saber detalhadamente sobre tudo, a escrita telegráfica, nesse contexto, se torna fundamental. Ela fornece o embasamento mínimo para que seja possível caminhar pela via congestionada da cibercultura.
Porém, os eruditos estão corretos quando reclamam por mais profundidade. Quando queremos entender mais detalhadamente os aspectos de uma situação, faltam reflexões mais elaboradas e pontos de vista mais diversificados. Entretanto, o problema não é o tamanho das chamadas e links, essências em nosso contexto, mas a falta de fontes de informação mais sérias, alternativas a essas formas mais concisas.
Estamos lendo muito mais, mas ainda continuamos a fazer parte de uma sociedade que não tornou a educação uma prioridade, da mesma forma que fazia antes do surgimento na internet. Não foi a tecnologia que tornou-nos superficiais, o sistema educacional e econômico nos deixou assim. As escritas telegráficas apenas respondem a tais anseios.
Caso queiramos a divulgação de reflexões mais consistentes na internet, precisamos focar na construção de cidadãos críticos e bem formados. Dessa forma, aumentaremos cada vez mais o público para esse tipo de texto e, consequentemente, sua quantidade. O verdadeiro desafio é concentrar o interesse de nossos vorazes leitores em leituras de mais fôlego que consigam conviver harmoniosamente com as escritas telegráficas. O foco da crítica deve ser, portanto, quem lê, não o material lido.