Não tenho acompanhado as últimas edições do reality show Big Brother. O formato do programa já não desperta nenhum tipo de reflexão nova ou, nem mesmo, risadas despretensiosas. Já faz tempo que percebemos a vontade do ser humano de olhar e ser olhado e, se possível, de poder julgar e sentenciar posturas e opiniões alheias. Quando analisamos o comportamento da população GLBT, não é nada diferente.
De forma cada vez mais evidente, a sociedade brasileira aceita a expressão de pensamentos, idéias e identidades diferentes relativas à sexualidade em suas ruas, bares e outros ambientes de socialização. Os gays sentem-se mais a vontade para olhar pessoas que não se parecem como eles e serem olhados. Dentro desse grupo, quem olha e é olhado costuma-se agrupar em pequenos grupos.
Encontramos as bichas, com suas calças apertadas, cabelos arrumados, alargadores e língua afiada. Os bofes e seus músculos, roupas de grife e acessórios caros. As bonecas e a exacerbação dos traços que tradicionalmente atribuímos ao feminino. Ele tem usado e abusado da estereotipização, se colocando em uma situação mais cômoda em meio a um ambiente onde todos estão prontos para julgar e serem julgados.
Tais arquétipos urbanos ligados à sexualidade servem, portanto, como ambientes de proteção em meio a uma sociedade que não está ainda totalmente preparada para o diferente. Nos sentimos desconfortáveis quando não conseguimos colocar as pessoas em uma categoria familiar, quando não podemos pretensiosamente prever suas posturas e valores. O próprio Big Brother transforma constantemente seus participantes em tipos, como, o cowboy, a piriguete ou a nerd.
Notadamente, o ambiente é muito mais tolerante do que aquele encontrado no final do século XX. Porém, podemos ir muito mais além, criando relações sociais onde as individualidades sejam realmente respeitadas e não exista intolerância e discriminação de qualquer tipo. Dessa forma, teremos uma sociedade realmente igualitária quando conseguirmos olhar e sermos olhados sem a proteção de símbolos fáceis e imediatos de identificação ou, mesmo, sem a proteção de uma tela de TV.
Não pretendo, de forma alguma, propor a criação de redes de significação que ultrapassem inteiramente o grupo. Somos seres sociais e criamos nossos valores e símbolos trocando com outras pessoas. Apenas quero reforçar a escassez de modelos e sua repetitividade. Ainda operamos que poucas categorias de identificação, por insegurança e repressão. Uma sociedade realmente inclusiva, pode abranger milhões de manifestações e formas de domesticação de corpo, não limitando-se a pequenos grupos, previsíveis e, no caso da sexualidade, que repetem à exaustão conceitos como feminino e masculino, bicha e bofe e piriguete e pegador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário