terça-feira, 5 de março de 2013

Sem razão para a poesia


Não quero querer o amor.
Não controlo o querer do amor.
O amor descontrola minhas contrações estomacais.
Meu presente é descontroladamente assustador.
Não existe um eu, apenas algo que ama em mim.
Passado inebriado, viciado e petrificado em ideal.
Não sou um ser, mas um será inalcançável.

O amor é um excesso de prazer, de dor e de pensar.
O amor é o nome pornográfico do exagero.
O excesso-amor encanta os solitários homens, que saíram da água da placenta para um liquido chamado infinito.
O útero protege, a falta de fronteiras projeta. Ela me lança para um mundo que não pode ser compreendido nunca.
O infinito é um liquido sólido demais para aguentar e gasoso demais para ser tocado.

O excesso-amor me devolve à placenta, me faz ficar assustadoramente apaixonado pelos meus medos e me distrai frente à incompreensão maior.
Ele traz a ilusão de que irei entender meus medos e irei trapacear com a morte.
Porém, todos os mecanismos de raciocinar a nada se prestam para defender-me do mistério do excesso-amor. E, por sua vez, do mistério maior.


Os métodos, as teorias, as teses, as hipóteses e as verdades são completamente inúteis.
O amor-excesso nunca chega verdadeiramente, e acaba por se transformar em um monstro.
Solução inútil.  O monstro cresce quando as ideias que não se deixam encapsular dominam o frio no estômago.
O monstro aparece em forma de príncipe, demônio, criança, Apolo e Judas. Jamais na figura de homem.
Preciso humanizá-lo, ou jamais conseguirei amá-lo como se deve amar um ser humano.
Ou jamais poderei odiá-lo como se deve odiar um ser humano.

Seria um monstro criado pelo meu medo do excesso? Pura covardia de encarar que quem se quer não se pode tocar?
Todos os músculos querem rejeitar a ilusão. Pobres músculos iludidos.

Eu não preciso de você para viver, meu amor. Já não tenho como me defender do infinito.  




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