No final desta semana, foi publicada uma pesquisa do IBOPE que procurava medir o grau de aceitação da população brasileira aos homossexuais e a seus direitos. Os números revelam uma situação interessante, quanto mais os direitos da população GLBT afetam o resto das pessoas, mais elas são liberais. Contudo, quanto menos esses direitos afetam a vida dos outros, mais as pessoas se mostraram conservadoras. Podemos verificar uma situação típica da sociedade brasileira, o direito do outro só é autorizado se trouxer algum benefício para quem o autoriza. Nesse caso, os heterossexuais.
Para entendermos melhor a situação, vejamos os números. Afinal, eles, ao menos, nunca mentem. De um lado, apenas 45% aprovam a união civil. Existe uma ideia de que a sexualidade de um afeta a dos outros de alguma forma. Como se o direito do outro de amar e transar quem quiser tolhesse meus diretos de fazer o mesmo. Aparentemente, as pessoas afirmam que elas possuem a forma correta de transar e que os desviantes não podem escolher. Porém, quando falamos de amizade, 73% teriam amigos gays. Afinal, quantas mulheres não se identificam com os gays? Quantos não frequentam nossas festas e manifestações culturais? Nesse quesito, os heterossexuais ganham muito como nossa companhia. O grau de tolerância aumenta. Por fim, 84% aceitariam ser atendidos por um médico gay. Observem que interessante. O outro tem o direito de me curar, pagar os impostos que pagam os meus serviços públicos e ter todos os deveres que possuo. Contudo, em sua casa, em seu quarto, só pode transar com quem os heterossexuais acharem que deve transar?
Dessa forma, quanto mais é interessante para seus interesses pessoais, mais liberais as pessoas se tornam. Vivemos em um país muito individualista, onde a ideia de coletivo é fraca e onde, mesmo quando se trata de direitos, só pensamos em nossos interesses próprios. Enquanto não construímos a ideia de que a liberdade do outro é também a nossa liberdade e que vivemos em um grupo onde todos devem ter os mesmos direitos, continuaremos a viver em um país com as maiores taxas de violência, desigualdade e como os preços mais altos do mundo.