Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser;
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser;
(Ricardo Reis – Fernando Pessoa)
Sempre me atraíram os pensamentos existencialistas e filosóficos. Não consigo imaginar a vida senão de uma perspectiva maior, menos cotidiana, mais misteriosa e mágica. Talvez tenha algo de artista e, como disse Woody Allen, deva dedicar minha vida a suavizar a falta de sentido da existência. O dia-a-dia me entedia, me torna mecânico, automático e menos humano. Gosto do extraordinário, do caos, daquilo que surpreende e não possamos prever. Por mais que o dinheiro seduza e traga a promessa de conquista do mundo, o sacrifício e a negação a que ele nos submete fazem com que não valha a pena. Contudo, é preciso ter coragem, caminhar contra a corrente é perigoso, arriscado, inseguro e incerto. Acredito, porém, que devemos pagar pra ver, não se adaptar a um modelo pré-estabelecido, não ser o que esperam de você e deixar sua marca no mundo. Mesmo que essa marca seja a desconstrução de tudo aquilo que nos massifique e faça com que nos distanciemos da condição de máquina produtiva.
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